sábado, 16 de abril de 2011

ALFABETIZAÇÃO CULTURAL
Um Homem Sem Nação, Religião e Moral


Cultura, do verbo cultivar, é a expressão de nossa relação com a vida e com o mundo. É o que norteia nosso pensamento sobre o mundo e sobre nós mesmos. Por isso, se não somos capazes de fazer nossa própria cultura, somos presas fáceis para outras, que nos dominam sem sequer nos darmos conta disso.

A cultura dominante é manipuladora, modifica nossa visão de mundo, implantando, em cada um, uma visão que não é sua por princípio, mas lhe envolve de tal modo que não é possível escapar-se dela. Não só domina a mente, como o corpo e as fantasias.

Considerável parte da cultura nacional e de todo o mundo é regida pelo neoliberalismo. Nossa criatividade e capacidade de percepção, naturais ao ser humano, são ludibriadas e impedidas à medida que o consumismo domina nossas vidas, canalizando nossos desejos em promessas de conforto e prazer. Mas não é apenas este o mal da dominação cultural. 

O neoliberalismo entende tanto o poder da cultura que fez questão de apagar a memória de todos e criar uma nova, impregnada com suas marcas e logotipos, que estão por toda a parte e permeiam o imaginário das pessoas.

Os desejos não são mais por aquilo que é preciso para nossa sobrevivência, mas para aquilo que supre a nossa ânsia de sermos os melhores e termos aquilo que é mais valorizado - ou seja,  aquilo que é envolto pelo fetiche, produto de nosso desejo.

O Brasil, um dos países onde se encontra a maior desigualdade social do mundo, possui uma guerra encoberta entre as pessoas atrás dos muros altos, com vidros, travas e alarmes, e o povo vulnerável, faminto e sedento por oportunidades.
Mas ele é apenas mais um dos países onde o neoliberalismo finca suas raízes e impõe a sua cultura devastadora, pois esta tem se tornado predominantemente a cultura mundial. 

O neoliberalismo é regido por um conjunto de ideias políticas e econômicas,  primordialmente capitalistas, que defende a não participação do estado na economia, havendo total liberdade de comércio - livre mercado-, pois este princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país.

Antes de tudo, é necessário entender que cultura não é arte produzida por gênios, não é irrelevante em nossas vidas, mas é algo indispensável à construção de nossa identidade, como diz Dan Baron em seu livro “Alfabetização Cultural – A luta íntima por uma nova identidade”.

Mas o pior de tudo isso é que somos todos cúmplices deste massacre cultural. Cúmplices involuntários, na maioria das vezes, mas não menos culpados por deixar que isso ocorra.

Nosso instinto crítico e nosso entendimento de cultura devem ser aguçados ou seremos cada vez mais dominados e ao mesmo tempo cúmplices não só do neoliberalismo, mas de qualquer forma de dominação que se estabeleça e tape nossos olhos (e ouvidos, e mentes, e pensamentos...) para a importância da capacidade de sermos os detentores de nossa própria identidade cultural.

[...] é necessário entender que cultura não é arte produzida por gênios, não é irrelevante em nossas vidas, mas é algo indispensável à construção de nossa identidade [...]

A cultura, sendo o modo como vemos o mundo, molda nosso jeito de viver e entender a vida. É o que nos torna diferentes de outros grupos de pessoas, que regem suas vidas através de conceitos que lhe foram transmitidos de forma diferente da nossa.

Por isso, faz-se necessária uma alfabetização cultural, um entendimento aprofundado de vários tipos de cultura que nos leve a perceber que somos e pensamos através desta. E isso só pode ser feito através da observação de outras culturas e percepção de que a nossa vida também é uma delas (pois nem todos sabem, necessariamente, que seu modo de viver é uma cultura).

O conhecimento de culturas diferentes nos dá uma nova perspectiva sobre o que achamos que é o modo "natural" de viver e passa-se a perceber a relatividade de tudo o que tínha-se como verdade.  

Devemos perceber que a maior parte de quem nós somos nos é imposta pelo meio em que estamos inseridos, e que isso faz toda a diferença.  

Mas isso não significa que devemos ser escravos de nossa ou de qualquer outra cultura, pois devemos ter capacidade e criticidade para perceber que, a partir desse conhecimento, podemos passar a ter escolhas, e assim tomar nossas próprias decisões sobre como devemos (ou não) viver as nossas vidas, baseando-nos não no que temos estabelecido, mas na comparação entre diferentes pontos de vista e argumentos.

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